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Cesário Verde-Ironias do degosto
Cesário Verde-Ironias do degosto

 

"Onde é que te nasceu" - dizia-me ela às vezes - 
"O horror calado e triste às coisas sepulcrais? 
"Por que é que não possuis a verve dos franceses 
"E aspiras, em silêncio, os frascos dos meus sais? 

"Por que é que tens no olhar, moroso e persistente, 
"As sombras dum jazigo e as fundas abstrações, 
"E abrigas tanto fel no peito, que não sente 
"O abalo feminil das minhas expansões? 

"Há quem te julgue um velho. O teu sorriso é falso; 
"Mas quando tentas rir parece então, meu bem, 
"Que estão edificando um negro cadafalso 
"E ou vai alguém morrer ou vão matar alguém! 

"Eu vim - não sabes tu? - para gozar em maio, 
"No campo, a quietação banhada de prazer! 
"Não vês, ó descorado, as vestes com que saio, 
"E os júbilos, que abril acaba de trazer? 

"Não vês como a campina é toda embalsamada 
"E como nos alegra em cada nova flor? 
"Então por que é que tens na fronte consternada" 
"Um não-sei-quê tocante e enternecedor?" 

Eu só lhe respondia: — "Escuta-me. Conforme 
"Tu vibras os cristais da boca musical, 
"Vai-nos minando o tempo, o tempo - o cancro enorme 
"Que te há-de corromper o corpo de vestal. 

"E eu calmamente sei, na dor que me amortalha, 
"Que a tua cabecinha ornada à Rabagas, 
"A pouco e pouco há-de ir tornando-se grisalha 
"E em breve ao quente sol e ao gás alvejará! 

"E eu que daria um rei por cada teu suspiro, 
"Eu que amo a mocidade e as modas fúteis, vãs, 
"Eu morro de pesar, talvez, porque prefiro 
"O teu cabelo escuro às veneráveis cãs!" 

 

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;-)

 

Obrigada a minha professora de biblioteca,

Armandina Maia




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